sábado, 3 de fevereiro de 2018

Meditação para o Domingo da Sexagésima

Pe João Mendes SJ

     A Palavra de Deus é semente. Como preparação para a pregação da palavra divina, durante o tempo da quaresma, a Igreja lembra-nos esta parábola, que é das mais belas que Jesus pronunciou.
     S. Paulo dirá mais tarde: " Vós sois agricultura de Deus " ( I Cor 3,9) ; porque, de fato, é do céu que vem a semente, e nós somos cultivados por Deus, como a terra é pelo lavrador. Mas o Senhor que a nossa colaboração, quer que o campo reaja com a influência do alto, e faça crescer a "semente de Deus".

1. A PALAVRA DE DEUS É SEMENTE

     1. Semente é um germe de vida. que se lança à terra para produzir frutos semelhantes a essa mesma semente. Assim, do grão de trigo que se lança no sulco das lavras, germinará uma espiga, com grãos de trigo iguais ao primeiro.
     Deus lançou à terra a sua semente que foi o Verbo Encarnado, princípio de vida e Verdade divina para o homem. Ele é o grande princípio, a grande revelação, que transformará as inteligências e dará alentos novos à vontade; e que, na intenção divina, deverá fazer germinar, entre os filhos de Adão, a multidão inumerável dos filhos de Deus, semelhantes a Cristo, seu unigênito por natureza.
     2. A semente de Deus mostrou-se fecundíssima.  Porque transformou as inteligências dos homens do mundo antigo pagão; a visão nova do universo, que o Messias ensinou, no Sermão da Montanha, mudou o apreço das coisas, trocando os princípios de valor. É ver, logo nos primeiros tempos da Igreja; que diferença entre o critério de um sábio grego ou romano, e o dum asceta cristão! E não só transformou as inteligências dos homens e a sua visão do mundo, mas fecundou-lhes as vontades, levando-as  a abraçar as consequências dessa nova luz, dando-lhes força e coragem, com os exemplos e os auxílios do Verbo Encarnado, Mártires, Virgens, Anacoretas, Confessores, Religiosos - semelhantes a Cristo, seara divina nascida da palavra de Deus...- toda a vida de perfeição da Igreja é o fruto desta semente fecundíssima, é a família divina gerada por esta semente de Deus, tudo imagens parciais do Verbo Encarnado, formando um Cristo Total.

2. QUE SUPÕE O TERRENO PREPARADO

     1. Atenção intelectual.  A semente, por si só, não germina, precisa do húmus do terreno onde cai. A agricultura de Deus é como a agricultura dos homens. Por isso, a Semente caída a beira da estrada, ou entre os espinhos, é a Palavra de Deus que não chega a ser ouvida, porque a alma é aberta e dissipada como terreno onde passa toda a gente, ou distraída pelas preocupações deste mundo que sufocam os rebentos do fervor. É preciso atender, pensar, alguma vez, em ouvir a Palavra de Deus, a única que é indispensável ouvir. Sabem-se e estudam-se tantas ninharias... Quando se resolverá o nosso espírito a fugir ao mundo da bagatela?

     2. Colaboração da vontade. intimamente ligada ao que precede, pois, quando a inteligência se aplicar, é porque já a vontade se moveu. Mas a colaboração do nosso querer é, sobretudo, em profundidade: é aquele humor que alimenta as raízes, e que não se encontra nas pedras; é aquela ternura escondida onde pegam bem as insinuações de Deus. Corações duros, impenetráveis ao passo invisível do Amor incriado, nesses, não há semente divina que vingue. A revelação do verbo pega, em nós, nas pequenas e múltiplas radículas afetivas de aceitação e oferta, que prendam, ao nosso coração, o convite do Bem. E nisto que consiste o ser " ex Deo" , da linhagem de Deus.

CONCLUSÕES

     1. Boa vontade. Tenhamos, pois, docilidade, que consiste no desejo de ser ensinado, e na preparação espiritual para o ser - e é esta a docilidade intelectual; e em ter um coração inclinado à luz, de sulcos abertos e revolvidos pela dor, dispostos a aceitar a recolher a palavra verdadeira - e é esta a docilidade da vontade. Que o Senhor nos transforme as entranhas, dando-nos um coração de carne, em vez do coração de pedra da nossa insensibilidade.
     2. Reflexão. O mundo vive na inconsciência e na irreflexão. A demanda da vida divina é, portanto, um ato de atenção que vence o prestígio da bagatela, e se dispõe a ouvir a palavra de Deus. Ser Cristão é interiorizar-se, fugir das aparências materiais, demandando o Deus desconhecido, que atua no silêncio, como as sementes, e na tranquilidade como o fermento.


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