segunda-feira, 10 de abril de 2017

Como escolher um estado de vida

Maria, desde os primórdios de sua vida, só a Deus buscava e amava. Por isso, merecera de Deus todas as bênçãos, e, sobretudo, a preparação de um estado tal como fora necessário, a fim de que na pessoa da santíssima Virgem se cumprissem os adoráveis oráculos de Deus.

Para obter uma feliz vocação, é mister que haja um concurso de coisas e circunstâncias que a Providência habitualmente reserva às almas fiéis, aquelas almas que O consultam sobre a escolha de um estado. Poderá esperar que lho reserve Deus alguém que tenha aquiescido aos funestos impulsos das  suas paixões?

A Providência recolhe no Seio de Maria, por seu casamento com São José, o precioso fruto das virtudes que ela com fidelidade praticou. Se só ao mundo tivessem consultado sobre a união de Maria com um esposo, sem dúvida teriam escolhido um homem rico, ou distinto pelo seu talento, ou outros dons, menos, porém, um homem de virtudes, um homem que vivesse desde a infância no temor de Deus. Não por esta última forma age o mundo, senão da outra.

Vistas interesseiras, considerações meramente humanas servem de princípio à maior parte dos casamentos. Conclusões se tiram das premissas dos bens materiais antes que do tesouro das graças.

Daí o grande número de insucessos matrimoniais, em que dois esposos mutuamente vão vivendo o seu martírio.

Assim o permite Deus para vingar, ainda nesta vida, o não ter sido consultado sobre um negócio, cujo êxito depende de Sua sábia direção. Assim, ele o permite como punição de se não ter feito, desde a mocidade, pela prática de virtudes, digno de sua proteção. A escolha dos pais de Maria, ou melhor a escolha de Deus recaiu em José, homem justo, o mais virtuoso dos homens que já nesta Terra existiu, o esposo mais digno da mais digna das virgens. Jamais casamento algum poderia ser mais venturoso que esse. Nem jamais houve corações que se alegrassem ao ponto dos de Maria e José, tão santamente unidos. A paz reinante naquelas almas, quem a poderia alterar?

É que Maria e José se achavam colocados no estado em que Deus os quis.

Muitos há que vivem descontentes do seu estado. Muito sofrem estes e muitas vezes aos outros fazem sofrer.

A razão disso está em terem procurado um estado no qual não os queria Deus.

Neles, bem se ajustam as palavras do profeta:

"Ai de vós, filhos desertores de minha Providência, que vos aconselhastes, sem me consultar" (Is 30, 1). A graça da vocação é uma graça importante que encerra em si mesma uma infinidade de outras. Se com a fidelidade se falta a esta graça, inútil será esperar pelas demais. Se se afasta da ordem desta Providência especial, que prepara graças de eleição para quem esteja disposto a se conformar com a vontade divina, logo se cai na ordem de uma providência comum, que só fornece graças comuns, com as quais alguém se poderá salvar, porém faz temer que se não salve, ou ao menos que só se salve dificilmente.

Consulta, pois, e roga ao Senhor, sobre a escolha de um estado, antes que deliberes, e dize como o profeta: "Fazei-me conhecer, Senhor, os caminhos por onde deverei seguir!" (Sl 142, 8).

Vive, alma cristã, de modo tal que em ti o Senhor não veja um indigno de seus cuidados. Se claramente não percebes a vontade de Deus, consulta os que são aqui encarregados ou delegados de Deus, aos quais compete iluminar-te a respeito do que tenhas de fazer.

Jesus prostrou por terra a Saulo no caminho de Damasco, mas não lhe explicou os seus desígnios a respeito dele, senão que o enviou a Ananias, para que assim o conhecesse.

Não consultes nem aos teus pais senão na medida em que o dever to exige. Pode acontecer, infelizmente, que os pais dêem a seus rebentos, a respeito de vocações, conselhos em conformidade com as máximas do mundo. "Os inimigos do homem estarão na sua casa" (Mt 10, 36).

Em suma, é prudente te aconselhares com a morte, isto é, decidires como certamente o farias, se fosse aquela hora em que deliberas a última hora da tua vida.

Retirado do livro "Imitação de Maria".

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