domingo, 21 de junho de 2015

Exercícios Espirituais: EXAME DE CONSCIÊNCIA PARA SE PURIFICAR E MELHOR SE CONFESSAR


Pressupondo que há em mim três pensamentos. A saber:
- o meu próprio, que provém simplesmente de minha liberdade e querer;
- e outros dois, que vem de fora: um proveniente do bom espírito e outro do mau.

O pensamento

            Há dois modos de merecer por ocasião de maus pensamentos que vem de fora:
1°- por exemplo, vem um pensamento de cometer pecado mortal. Resisto prontamente e ele fica vencido.
2°- o segundo modo de merecer sucede quando me vem aquele mesmo mau pensamento e eu resisto. Ele volta a vir uma e outra vez, e eu sempre resisto, até que ele se retire vencido. Este segundo é mais meritório que o primeiro.
            Peca-se venialmente quando vem o mesmo pensamento de cometer pecado mortal e se lhe dá atenção, demorando-se por um pouco nele; ou dele recebendo alguma satisfação sensual; ou sendo um tanto negligente em repelir este pensamento.
            Há dois modos de pecar mortalmente:
1°- quando a pessoa consente no mau pensamento, querendo logo agir como consentiu, ou desejando, se possível, pô-lo em prática.
2°- quando se pratica aquele pecado mortal. Este modo é mais grave por três razões: pela maior duração, pela maior intensidade e pelo maior dano às pessoas.

A palavra

            Não jurar nem pelo Criador, nem pela criatura. A não ser com verdade, necessidade e reverência.
            “por necessidade” entendo não quando se afirma por juramento qualquer verdade, mas quando é de alguma importância para o proveito espiritual ou corporal ou dos bens materiais.
            Entendo haver reverencia quando a pessoa presta honra e o respeito devidos ao pronunciar o nome do seu Criador e Senhor.
            Quando juramos sem necessidade, pecamos mais jurando pelo Criador que pela criatura. Advirta-se que é mais difícil jurar corretamente com verdade, necessidade e reverência pela criatura do que pelo Criador, pelas seguintes razões:
1°- quando juramos por alguma criatura, visto que apenas nos referimos a uma criatura, não ficamos tão atentos e precavidos para dizer a verdade com necessidade, como quando nos referimos ao Criador e Senhor de todas as coisas.
2° - quando juramos pela criatura, não é tão fácil ter reverencia e acatamento para com o Criador, como quando juramos invocando o próprio Criador e Senhor. Pronunciar o nome de Deus nosso Senhor supõe mais acatamento e reverencia do que pronunciar o nome da criatura.
            Por isso, é mais admissível que os perfeitos jurem pela criatura do que os imperfeitos. Pois os perfeitos, graças à assídua contemplação e iluminação do entendimento, consideram, meditam e contemplam mais como Deus nosso Senhor está em cada criatura, segundo sua própria essência, presença e poder. Sendo assim, quando juram pela criatura, estão mais aptos e dispostos a ter acatamento e reverencia para com o seu Criador e Senhor do que os imperfeitos.
3°- quando juramos frequentemente pela criatura, há maior risco de idolatria para os imperfeitos do que para os perfeitos.
            Não dizer palavra ociosa, isto é, palavra que não traz proveito nem para mim. Nem para o outro, nem tem esta intenção. Nunca é ocioso falar acerca de tudo o que tem proveito ou intenção de ajudar espiritualmente a si ou a outra pessoa; ou ser útil ao corpo e aos bens materiais. Também não é ocioso conversar sobre assuntos estranhos a seu estado, como no caso de um religioso que trate de guerras ou de comercio.
            No entanto, em tudo o que foi dito acima há merecimento em ordenar bem para um fim honesto. E há pecado quando tem um fim mau, ou se fala sem necessidade.
            Nada dizer que difame ou desacredite. Com efeito, se revelo um pecado mortal que não é publico, peco mortalmente. Se revelo um pecado venial, peco venialmente. Se manifesto um defeito, demonstro em defeito próprio. Mas, se a intenção for boa, pode-se falar em pecados ou faltas alheias de dois modos:
1°- quando for pecado público. Por exemplo: falar de uma prostituta publica, ou de uma sentença dada em juízo, ou de um erro público que contamina as pessoas com quem falamos;
2° quando se revela a alguém um pecado oculto, para que ajude o pecador a se levantar, se há esperanças ou razoes fundadas para tanto.

A obra

            Considerando-se os dez mandamentos, os mandamentos da Igreja e as determinações dos superiores, tudo o que se pratica contra uma destas três matérias é pecado, maior ou menos conforme a sua importância.
            Entendo por determinações dos superiores, por exemplo, as normas da autoridade da Igreja em favor da paz, dando indulgencias aos que se confessam e recebem o Santíssimo Sacramento. Pois não pouco se peca agindo ou levando alguém a agir contra tão piedosas exortações e determinações de nossos superiores.
   
MODO DE FAZER O EXAME GERAL: CONSTA DE CINCO PONTOS

1°- das graças a Deus, nosso Senhor, pelos benefícios recebidos;
2°- pedir graça para conhecer os pecados e rejeitá-los
3°- pedir as contas de si mesmo, repassando o período desde o momento de se levantar até o exame presente, hora por hora ou período por período. Primeiro dos pensamentos. Depois das palavras e, finalmente dos atos. Usar a mesma ordem indicada no exame particular;
4°- pedir perdão a Deus nosso Senhor pelas faltas;
5°- fazer o propósito de se emendar com a sua graça. Rezar o Pai-nosso.

CONFISSÃO GERAL E COMUNHÃO

            Para quem quiser voluntariamente fazer a confissão geral, há três vantagens, entre muitas outras:
1°- quem se confessa todos os anos não está obrigado a fazer confissão geral. Há, porém, maior aproveitamento e mérito em fazê-la por causa da maior dor que experimenta agora a respeito de todos os pecados e malícia da vida inteira;
2°- nestes Exercícios espirituais os pecados e suas malícias são mais interiormente conhecidos pela pessoa do que quando ela não se dedicava tanto ás coisas interiores. Se conseguir agora maior conhecimento e dor dos pecados, terá maior proveito e mérito do que antes;
3°- em consequência, como a pessoa está mais bem confessada e disposta, encontra-se mais apta e preparada para receber o Santíssimo Sacramento. A comunhão não somente ajuda para que não caia em pecado, mas também para que se conserve no aumento da graça. É melhor fazer essa confissão geral imediatamente após os exercícios da primeira semana.


Fonte: Exercícios espirituais, (n° 32 – 44), Santo Inácio de Loyola

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